quarta-feira, 1 de agosto de 2012

PAI NÃO É PROFESSOR PARTICULAR

A criançada está de volta à escola. Foi bom esse tempo sem rotina, sem horário e sem obrigações escolares. Mas, será bom, também, o retorno a uma vida organizada.

Faz bem para os mais novos saber, pelo menos um pouco, como será o dia seguinte. Dá a eles sensação de segurança, estabilidade.

Nos primeiros dias na escola, é uma alegria para as crianças encontrar os colegas que não viram por quase um mês, contar as novidades, voltar a brincar com os amigos no recreio. Mas, logo depois recomeça, para muitos, uma jornada bem árdua.

Não, não me refiro aqui aos deveres escolares e à tarefa de ter de aprender algo que não sabem - situação que nós sabemos ser bem difícil. Muitas crianças sofrem, de fato, com essas questões.

Custa a elas assumir as pequenas responsabilidades que lhes cabem e custa mais ainda aceitar que não sabem e que precisam aprender para saber. E isso requer esforço e concentração.

Nos tempos atuais, as crianças são iludidas pelas imagens e isso faz com que elas pensem que já sabem a respeito de quase tudo. "Eu sei" é a frase curta que repetem várias vezes ao dia, já reparou?

Mesmo com tais dificuldades, as crianças podem superar os seus desafios escolares e colocar em atos o potencial que têm.

Quando falei em jornada árdua, eu me referia ao envolvimento dos pais, tão requisitado atualmente, na vida escolar dos filhos.

A frase "Se os pais acompanham de perto a vida escolar dos filhos, esses se saem melhor na escola" resume o principal argumento que leva adultos a estudar com as crianças, a fazer as lições de casa junto com elas, a providenciar trabalhos, a coletar informações na internet etc.

A afirmação acima é verdadeira, claro. Qualquer pessoa que tenha ajuda em qualquer coisa se sai melhor. O problema é o equívoco que esse pensamento contém.

Na escola, sair-se bem é aprender -e não simplesmente alcançar boas notas. E aprender, caro leitor, é uma tarefa que a criança precisa realizar sem a ajuda dos pais.

Com o estilo de vida que nós adotamos, cada vez mais uma enorme quantidade de pais acredita que precisa acompanhar os estudos do filho e até realiza isso de bom grado. Quer dizer, mais ou menos.

No início, até que a coisa vai bem, mas logo a paciência acaba e a relação entre os pais e o filho fica conturbada. É que os pais cobram esforço, dedicação e lição correta. E não costuma ser isso o que os filhos produzem.

Para muitos desses pais, a tarefa parental se resume a esse acompanhamento da vida escolar e à gestão da vida do filho. A função dos pais é bem maior do que isso: é acompanhar a vida do filho.

A função dos pais é dar ao filho a oportunidade de ele próprio se responsabilizar por sua vida escolar. É estimular no filho a vontade de formular perguntas que envolvem o conhecimento, de dirigi-las aos pais e de ficar interessado nas respostas. É, também, dar ao filho a chance de ele saber que é capaz de enfrentar sua própria batalha sozinho e dar conta dela.

Essas são coisas muito mais importantes para a criança do que ter a mãe ou o pai sempre presente nos trabalhos, nas provas etc.

Neste retorno às aulas, dê chance para que seu filho se aproprie de seus estudos. Isso não significa abandoná-lo. Ele precisa ser lembrado, incentivado, encorajado a assumir suas responsabilidades escolares e a seguir sempre em frente, mesmo com dificuldades e obstáculos.

Mas isso pode ser feito sem que os estudos se tornem mais importantes para os pais do que para ele próprio.

Os pais precisam se lembrar de o que filho já tem professores na escola, que é o local especializado no ensino. Em casa, a criança precisa é de pais, e não de professores particulares ou tutores.

Rosely Sayão, psicóloga e consultora em educação, fala sobre as principais dificuldades vividas pela família e pela escola no ato de educar e dialoga sobre o dia-a-dia dessa relação. É autora de "Como Educar Meu Filho?" (Publifolha), entre outros. Escreve às terças na versão impressa de "Equilíbrio".

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